
“So What”, um clássico do jazz modal composto por Miles Davis, representa uma ruptura significativa no panorama musical da década de 1950. Lançada em 1959 como parte do álbum “Kind of Blue”, essa obra-prima se tornou um marco da música instrumental e continua a fascinar ouvintes até hoje. A sua beleza reside na simplicidade aparente da melodia, contrapondo-se à complexidade harmônica que subjaz à estrutura musical.
Desvendando o Génio de Miles Davis:
Miles Dewey Davis III (1926-1991) foi um trompetista, compositor e líder de banda americano, amplamente considerado um dos músicos mais influentes da história do jazz. Sua carreira se estendeu por seis décadas, durante as quais ele explorou uma variedade de estilos musicais, desde o bebop tradicional até a experimentação avant-garde. Davis sempre buscou inovar e desafiar os limites do gênero, incorporando elementos de rock, funk e música clássica em suas composições.
Seu talento musical precoce se manifestou na infância, quando começou a tocar trompete aos 13 anos. Após servir na Marinha durante a Segunda Guerra Mundial, Davis retornou aos Estados Unidos e rapidamente se estabeleceu como um dos músicos mais requisitados da cena bebop de Nova York. Suas colaborações com Charlie Parker e Dizzy Gillespie o catapultaram para a fama, consolidando seu lugar como uma figura central no movimento bebop.
A Revolução do Jazz Modal:
Durante a década de 1950, Davis começou a se sentir limitado pelas estruturas harmônicas rígidas do bebop tradicional. Em busca de novas formas de expressão musical, ele explorou o conceito de “modal jazz”. Ao invés de se basear em progressões de acordes complexas, o modal jazz se concentra na exploração de escalas (modos) musicais para criar paisagens sonoras amplas e evocadoras.
“Kind of Blue”, lançado em 1959, foi um exemplo pioneiro do jazz modal. O álbum contou com uma formação inovadora: Miles Davis (trompete), John Coltrane (saxofone tenor), Cannonball Adderley (saxofone alto), Bill Evans (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e Jimmy Cobb (bateria).
Analisando “So What”: Uma Jornada Harmônica Surpreendente:
A beleza de “So What” reside na sua simplicidade aparente. A melodia principal é composta por apenas duas notas, repetidas em diferentes oitavas. No entanto, a verdadeira genialidade da peça está na estrutura harmônica subjacente.
Em vez de seguir uma progressão tradicional de acordes, Davis utiliza apenas dois modos musicais: Dó dório e Ré dório. A alternância entre esses dois modos cria uma tensão e resolução surpreendentes. O resultado é uma música que soa ao mesmo tempo familiar e estranhamente hipnótica.
Experiência Auditiva:
Ao ouvir “So What”, perceba como a melodia simples se transforma em um pano de fundo para improvisos elaborados dos músicos. John Coltrane, com sua sonoridade poderosa e espiritual, e Cannonball Adderley, com seu estilo mais leve e melódico, criam solos memoráveis que exploram as possibilidades harmônicas da peça.
A batida suave e constante da bateria de Jimmy Cobb e o contrabaixo profundo de Paul Chambers ancoram a música, criando uma sensação de flutuação e liberdade. O piano de Bill Evans, com sua sensibilidade melodica e harmônica, completa o conjunto, adicionando camadas de textura e profundidade à música.
Um Legado Duradouro:
“So What” não apenas revolucionou o jazz modal, mas também influenciou gerações de músicos em diversos gêneros musicais. Sua simplicidade, beleza e complexidade harmônica continuam a inspirar artistas até hoje.
Essa obra-prima musical é um testemunho da visão inovadora de Miles Davis e do poder transformador da música. Se você busca uma experiência sonora única e inesquecível, “So What” é uma jornada musical obrigatória.